quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Fahrenheit 451 - Ray Brudbury

Chamado pelo autor de "folhetim barato" e escrito em meio à crises financeiras, o americano Ray Brudbery publicou "Fahrenheit 451" em 1953, que o consolida como escritor de ficção científica. À altura de "1984" de George Orwell, "Admirável mundo novo" de Aldous Huxley, e "Nós" de Ievguêni Zamiátin, o romance distópico faz uma crítica pungente à uma das formas mais ferrenhas do totalitarismo, que é a indústria cultural e a sociedade de consumo.


Em tempos que assistimos a ascenção do conservadorismo - temos as falas de Trump, Temer, Bolsonaro e cia - , livros que retratam a utopia (imaginário da realidade acerca de uma sociedade perfeita, uma civilização ideal, imaginária, logo, inalcançável) e distopia (o contrário da utopia, na etimologia da palavra seria algo como "lugar ruim") acabam figurando nas listas de mais vendidos. Talvez o medo do regresso e o temor à determinados discursos reascende a questão do quanto podemos ser controlados, e mal nos darmos conta disso.

Ambientada numa cidade americana não futurista, mas sombria e opressiva, que alude aos tempos em vivemos, os livros representam uma ameaça ao sistema e são totalmente proibidos, onde bombeiros não apagam incêndios, mas inceideiam livros e bibliotecas. Nas residências os aparelhos de televisão chegam a ocupar uma parede inteira, permitindo às pessoas que façam transmissão umas com as outras.

O escritor de ficção científica Ray Bradbury
“Você precisa entender que nossa civilização é tão vasta e agitada que não podemos permitir que nossas minorias sejam transtornadas e agitadas. Pergunte a si mesmo: O que queremos neste país, acima de tudo? As pessoas querem ser felizes, não é certo? Não foi o que você ouviu durante toda a vida? Eu quero ser feliz, é o que diz todo mundo. Bem, elas não o são? Não cuidamos para que sempre estejam em movimento, sempre se divertindo? É para isso que vivemos, não acha? Para o prazer, a excitação? E você tem de admitir que nossa cultura fornece as duas coisas em profusão”.

Neste cenário vivemos os dilemas do bombeiro Guy Montag, que após conhecer sua vizinha Clarice, que questiona o mundo à sua volta, acaba se insurgindo contra a política vigente. Com ele acompanhamos um diálogo inebriante com Beatty, chefe dos bombeiros e antagonista da trama, que cita Shakespeare de cabeça mas defende o extermínio dos livros, que na sua visão são prejudiciais aos humanos por trazer questões negativas e angustiantes.

Primeira adaptação de "Fahrenheit 451" por François Truffaut 
“Não se pode garantir coisas como essas! Afinal de contas, quando tivéssemos todos os livros de que precisaríamos, ainda teríamos que encontrar o precipício mais alto de onde nos atirar. Mas o fato é que precisamos de uma pausa para tomar fôlego. Precisamos de conhecimento. E talvez em mil anos possamos escolher precipícios menores de onde saltar. Os livros servem para nos lembrar o quanto somos estúpidos e tolos. São o guarda pretoriano de César, cochichando enquanto o desfile ruge pela avenida: ‘Lembre-se, César, tu és mortal.’ A maioria de nós não pode sair correndo por aí, falar com todo mundo, conhecer todas as cidades do mundo. Não temos tempo, dinheiro ou tantos amigos assim. As coisas que você está procurando, Montag, estão no mundo, mas a única possibilidade que o sujeito comum terá de ver noventa e nove por cento delas está num livro. Não peça garantias. E não espere ser salvo por uma coisa, uma pessoa, máquina ou biblioteca. Trate de agarrar sua própria tábua e, se você se afogar, pelo menos morra sabendo que estava no rumo da costa.”

O livro já foi filmado para os cinemas em 1966 por François Truffault. E graças a nossa amada indústria cultural, a HBO lançou recentemente um trailer da nova adaptação de "Fahrenheit 451", dirigida por Ramin Bahrani e que estreia ainda este ano. Enquanto o filme não vêm, a gente fica matutando sobre o romance, e assistindo ao trailer:


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