terça-feira, 27 de agosto de 2013

As mãos do crack

Alessio Ortu, é um fotógrafo italiano de que passou um ano visitando de duas em duas semanas a região da cidade de São Paulo conhecida como “Cracolândia”, isso com o objetivo de fotografar os usuários de Crack que por lá passam, sem apoio financeiro, o trabalho resultou no livro Simulacrum Praecipitii – A visão do abismo e em um documentário dirigido por Humberto Bassanelli. “Quero que estas imagens sejam como um soco no estômago de quem vê”, diz o artista, que vive no Brasil desde 2009. 

Ver a degradação física e mental destas pessoas por meio de suas mãos, com algo sempre relacionado ao vício. Uma visão que se tem dessa escória deixando de lado a vida desses seres humanos, o que elas realmente são e como elas chegaram em seu estado atual.

“Saía andando em busca deles. Era preciso rapidez, porque são como fantasmas. Tem de ficar ligado porque, a alguns metros, ficam centenas de outros craqueiros. Não são todos bonzinhos, há criminosos e os traficantes. Tem bastante tensão envolvida, é uma energia pesada. A maioria das vezes eles pediam dinheiro (para que eu pudesse fotografa-los), e eu dava R$ 5. Dinheiro é uma linguagem universal. Com dinheiro, eles compram o que querem. Nem sempre é crack, às vezes é um suco, um lanche, uma diária num hotel para dormir e tomar banho.

As mãos documentam a ruína dessas pessoas. É por meio das mãos que chegam àquele estado de desgraça, preparam a droga, pedem dinheiro. As mãos são queimadas pela manipulação de isqueiros e cachimbos quentes, e sujas, porque muitos procuram comida no lixo, dormem no chão e catam material reciclável para sobreviver.


A do Jonatas, um menino cego que mora na rua e usa crack. Ele pede dinheiro no farol e só consegue sobreviver graças à ajuda de outros craqueiros, que o auxiliam nas operações cotidianas, inclusive a fumar pedra. Ele apareceu do nada enquanto eu estava fotografando outro cara, o Gerson. Jonatas estava com os olhos sujos e Gerson pegou sua própria camiseta e o limpou com ela. Foi uma cena que me mostrou como, mesmo nessa condição miserável de degradação total, de dependência química arrasadora, ainda existe espaço para calor humano, generosidade, companheirismo."
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